quarta-feira, 5 de maio de 2010

Poema de Suriel Moisés, inspirado em suas pesquisas

Jornada Cultural

 

Vou cruzar o Brasil de ponta a ponta

Desvendando os mistérios culturais

Dentre as roças sertões e matagais

Vendo a arte que vívida desponta

Pensamento firmado e mala pronta

Vou tirar meu sapato e pôr chinela

E na longa jornada ver quão bela

É a história de cada lugarejo

Descobrindo o talento sertanejo

Onde a luz da cultura se revela

 

Vou pintar na memória uma aquarela

Com as cores de cada tradição

Traduzir o Brasil com perfeição

Nos detalhes de cada cidadela

Vou a pé, de canoa e barco a vela,

Percorrer cada metro brasileiro

Ver um vate, caboclo, cancioneiro,

Transformar uma opaca pedra bruta

Em diamantes de verso em voz matuta

Como fosse o mais hábil joalheiro

 

Quero ouvir os segredos do terreiro

Na seara de Obaluaiê

Entregar-me prum coco de Zambê

Numa noite estrelada de janeiro

Com licença de algum catimbozeiro

Ver o culto citado em "Iracema"

E no aroma de arruda e alfazema

Preparar-me pra entrar na sintonia

E entender neste rito a encantaria

Dos augustos mistérios da Jurema

 

Na procura do Santo diadema

Grande lume sublime Popular

Quero ouvir o mais rústico entoar

Do lirismo caboclo em um poema

Ver o bom cantador que, sem problema,

Improvisa em Martelo Alagoano

Que é complexo, mas ele, sem engano,

Cria versos com toda precisão

Metrifica lirismo e coesão

Humilhando qualquer parnasiano

 

Vou aos poucos deixar de ser profano

Conhecendo o Sertão dos menestréis

Que sem pompas, canudos nem lauréis

Dão exemplos de honra ao ser humano

O roceiro é artista soberano

Não existe doutor que faça igual

Um poeta, matuto, genial,

Como foi nosso grande Patativa

Uma estrela de luz forte e altiva

Clareando o universo cultural

 

Quero ver no estilo Armorial

Uma orquestra na beira de uma praia

Com rabeca, com pife, com alfaia

Urucungo, maraca e berimbau.

Quero ver nos festejos de Natal

Um cortejo de vozes tão sofridas

Entoando canções agradecidas

Demonstrando firmeza e confiança

Despertando na gente a esperança

De encontrar alegria em nossas vidas

 

Quero ver boi de reis nas avenidas

Relembrando o nascido Deus menino

E a brancura da pomba do divino

Contrastando com fitas coloridas

Quero ouvir o compasso das batidas

Sincopadas dum coco e dum baião

E no ardor causticante do verão

Sob a luz das estrelas caminhando

Ver um Boi magistral ressuscitando

No reisado de cada coração

 

Quero ver a folia do azulão,

Do nhambu, do xexéu, numa toada

Floreando o prelúdio d'alvorada

Quando o Sol vem rompendo a escuridão

Sob a luz matutina do Sertão

Ver a mata florindo bela e pura

Que, com toda abundancia, configura

Um cenário pra grande sinfonia

Dos canários cantando de alegria

Em louvor aos caprichos da Natura

 

Quero ver a mais mítica figura

Das histórias do velho pai Vicente

O saci viciado em aguardente

E a mula assombrando a noite escura

Boitatá a terrível criatura

Curupira cuidando o florestal

E um índio de encanto sem igual

Que tocava uma flauta de bambu

Num mistério virar uirapuru

Passarinho de canto divinal

 

Nesta grande jornada cultural

Vou findar esta sede que maltrata

Na mais limpa nascente que hidrata

A raiz do folclore nacional

Vou lavar o nojento lamaçal

Tão bizarro da "arte" de hoje em dia

Que desponta na rádio ou livraria

No pagode, no funk ou no congresso

De doutores que estudam prosa e verso,

Com a mesma pseudo-poesia

 

Vou pedir toda força e valentia

Necessárias na intrépida batalha

Pra transpor com bravura a vil muralha

Do modismo e da vã idolatria

Vou mostrar o valor da poesia

Que a própria natura nos retrata

Que não veio de um meio aristocrata

Nem de um grupo, de doutos, influente

Mas brotou e cresceu como a semente

De um ipê que ornamenta a verde mata

 

Já me usei de linguagem abstrata

Inspirado no estilo modernista

Mas é quando eu escuto um Repentista

Que a minha poética desata

Repentista parece uma cascata

Conduzindo lirismo em correnteza

No seu metro descreve com riqueza

O mais belo cantar dos rouxinóis

Construindo sublimes arrebóis

Em seu canto louvando a natureza

 

Quero ver estes Mestres da destreza

Portadores da herança milenar

Cujo tempo cuidou de preservar

Desde as eras feudais da realeza

Que através das esquadras, portuguesa,

Holandesa, francesa e espanhola

Conduziram no mar a grande escola

Pra formar novos bardos com virtude

E trocar o nostálgico alaúde

Pelos fortes ponteios da viola

 

Como gira no espaço a grande bola

Nos etéreos confins da imensidão

Vou rodar o país nesta função

Pra matar a vontade que me assola

Ver os grandes concursos de viola

Transbordando em talento e maestria

E no afã da instigante cantoria

Contemplando o maior dos espetáculos

Alcançar a planície nos pináculos

Consagrados da Santa Poesia

 

Suriel

 


 

Atividade nos últimos dias:
.

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J3

Conheça o livro Culturas e linguagens em folhetos religiosos no Nordeste

 

 Culturas e linguagens em folhetos religiosos no Nordeste
 Gilmário Moreira Brito
 Formato: 16 x 23 cm, 236 páginas
 ISBN: 978-85-391-0031-6
 
O presente livro Culturas e Linguagens em folhetos religiosos do Nordeste: inter-relações escritura, oralidade, gestualidade, visualidade, é um excelente ensaio, resultado de longa pesquisa de Doutorado e de inspirada reflexão historiográfica que procura apreender nas diversas linguagens – oral, escrita, visual, gestual – presentes nos folhetos religiosos do Nordeste os sentidos e significados da produção dos lugares e das visibilidades "constitutivas dos sujeitos". (...) Gilmário analisa os folhetos religiosos problematizando as múltiplas possibilidades de leitura da obra impressa, já que esta se oferece "não apenas para ser lida por um leitor, individualmente, mas para ser lida em voz alta, em tom recitativo, para uma audiência". Repensar os referidos folhetos em termos das práticas de transmissão a que se destinam, e da audiência que diante delas se estabelece, é o ponto nodal através do qual o autor consegue capturar a interconexão entre as diversas práticas, linguagens e culturas que se expressam através destes folhetos religiosos do nordeste. A letra, a voz, a imagem, o gesto – instâncias inseparáveis desta prática e desta produção – firmam aqui o seu diálogo, objeto de uma cuidadosa análise historiográfica que tenta perceber como se estabelece nestas fontes o jogo de tensões entre as diversas tradições e formas de expressão religiosas. (José D'Assunção Barros)

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Contatos Rosilene Alves de Melo:
(83) 8814-1410
(88) 9922-1410


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Atividade nos últimos dias:
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    J3

    segunda-feira, 3 de maio de 2010

    Poema de Suriel Moisés

    Os versos foram escritos quando começou as pesquisas na área da oralidade e são um reflexo do encantamento e do ímpeto que sentiu em desvendar este mundo maravilhoso da Poesia Popular.  
     
     
     
    Jornada Cultural
     
    Vou cruzar o Brasil de ponta a ponta
    Desvendando os mistérios culturais
    Dentre as roças sertões e matagais
    Vendo a arte que vívida desponta
    Pensamento firmado e mala pronta
    Vou tirar meu sapato e pôr chinela
    E na longa jornada ver quão bela
    É a história de cada lugarejo
    Descobrindo o talento sertanejo
    Onde a luz da cultura se revela
     
    Vou pintar na memória uma aquarela
    Com as cores de cada tradição
    Traduzir o Brasil com perfeição
    Nos detalhes de cada cidadela
    Vou a pé, de canoa e barco a vela,
    Percorrer cada metro brasileiro
    Ver um vate, caboclo, cancioneiro,
    Transformar uma opaca pedra bruta
    Em diamantes de verso em voz matuta
    Como fosse o mais hábil joalheiro
     
    Quero ouvir os segredos do terreiro
    Na seara de Obaluaiê
    Entregar-me prum coco de Zambê
    Numa noite estrelada de janeiro
    Com licença de algum catimbozeiro
    Ver o culto citado em "Iracema"
    E no aroma de arruda e alfazema
    Preparar-me pra entrar na sintonia
    E entender neste rito a encantaria
    Dos augustos mistérios da Jurema
     
    Na procura do Santo diadema
    Grande lume sublime Popular
    Quero ouvir o mais rústico entoar
    Do lirismo caboclo em um poema
    Ver o bom cantador que, sem problema,
    Improvisa em Martelo Alagoano
    Que é complexo, mas ele, sem engano,
    Cria versos com toda precisão
    Metrifica lirismo e coesão
    Humilhando qualquer parnasiano
     
    Vou aos poucos deixar de ser profano
    Conhecendo o Sertão dos menestréis
    Que sem pompas, canudos nem lauréis
    Dão exemplos de honra ao ser humano
    O roceiro é artista soberano
    Não existe doutor que faça igual
    Um poeta, matuto, genial,
    Como foi nosso grande Patativa
    Uma estrela de luz forte e altiva
    Clareando o universo cultural
     
    Quero ver no estilo Armorial
    Uma orquestra na beira de uma praia
    Com rabeca, com pife, com alfaia
    Urucungo, maraca e berimbau.
    Quero ver nos festejos de Natal
    Um cortejo de vozes tão sofridas
    Entoando canções agradecidas
    Demonstrando firmeza e confiança
    Despertando na gente a esperança
    De encontrar alegria em nossas vidas
     
    Quero ver boi de reis nas avenidas
    Relembrando o nascido Deus menino
    E a brancura da pomba do divino
    Contrastando com fitas coloridas
    Quero ouvir o compasso das batidas
    Sincopadas dum coco e dum baião
    E no ardor causticante do verão
    Sob a luz das estrelas caminhando
    Ver um Boi magistral ressuscitando
    No reisado de cada coração
     
    Quero ver a folia do azulão,
    Do nhambu, do xexéu, numa toada
    Floreando o prelúdio d'alvorada
    Quando o Sol vem rompendo a escuridão
    Sob a luz matutina do Sertão
    Ver a mata florindo bela e pura
    Que, com toda abundancia, configura
    Um cenário pra grande sinfonia
    Dos canários cantando de alegria
    Em louvor aos caprichos da Natura
     
    Quero ver a mais mítica figura
    Das histórias do velho pai Vicente
    O saci viciado em aguardente
    E a mula assombrando a noite escura
    Boitatá a terrível criatura
    Curupira cuidando o florestal
    E um índio de encanto sem igual
    Que tocava uma flauta de bambu
    Num mistério virar uirapuru
    Passarinho de canto divinal
     
    Nesta grande jornada cultural
    Vou findar esta sede que maltrata
    Na mais limpa nascente que hidrata
    A raiz do folclore nacional
    Vou lavar o nojento lamaçal
    Tão bizarro da "arte" de hoje em dia
    Que desponta na rádio ou livraria
    No pagode, no funk ou no congresso
    De doutores que estudam prosa e verso,
    Com a mesma pseudo-poesia
     
    Vou pedir toda força e valentia
    Necessárias na intrépida batalha
    Pra transpor com bravura a vil muralha
    Do modismo e da vã idolatria
    Vou mostrar o valor da poesia
    Que a própria natura nos retrata
    Que não veio de um meio aristocrata
    Nem de um grupo, de doutos, influente
    Mas brotou e cresceu como a semente
    De um ipê que ornamenta a verde mata
     
    Já me usei de linguagem abstrata
    Inspirado no estilo modernista
    Mas é quando eu escuto um Repentista
    Que a minha poética desata
    Repentista parece uma cascata
    Conduzindo lirismo em correnteza
    No seu metro descreve com riqueza
    O mais belo cantar dos rouxinóis
    Construindo sublimes arrebóis
    Em seu canto louvando a natureza
     
    Quero ver estes Mestres da destreza
    Portadores da herança milenar
    Cujo tempo cuidou de preservar
    Desde as eras feudais da realeza
    Que através das esquadras, portuguesa,
    Holandesa, francesa e espanhola
    Conduziram no mar a grande escola
    Pra formar novos bardos com virtude
    E trocar o nostálgico alaúde
    Pelos fortes ponteios da viola
     
    Como gira no espaço a grande bola
    Nos etéreos confins da imensidão
    Vou rodar o país nesta função
    Pra matar a vontade que me assola
    Ver os grandes concursos de viola
    Transbordando em talento e maestria
    E no afã da instigante cantoria
    Contemplando o maior dos espetáculos
    Alcançar a planície nos pináculos
    Consagrados da Santa Poesia
     
    Suriel

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    J3

    Vaqueiro Voador entre os 50 Brasília escritos sobre Brasília, do Correio Braziliense

    O Correio Braziliense publicou, em 2 de maio de 2010, uma matéria intitulada Brasília em 50 escritos, assinada por Marina Severino.

     

    Um dos 50 escritos é o Romance do Vaqueiro Voador. Abaixo, transcrevo a introdução da matéria e a parte que fala do meu livro.

     

    A literatura sobre Brasília registra momentos anteriores à concepção. Desde o século 19, os ideais de interiorização da capital brasileira ecoavam em estudos, debates políticos e sonhos — o de Dom Bosco, mesmo que nublado, aqueceu os idealistas, enquanto Olavo Bilac, de forma incisiva, incentivava em 1905 a exploração de riquezas no interior do país.
    Dos anseios modernistas e críticas à saga de Kubitschek no Planalto Central, Brasília surge em ensaios, poemas, romances e discursos como símbolo do futuro nacional. Depois de inaugurada, é descrita por visitantes como capital da solidão, marcada pelo contraste do concreto com a terra vermelha. Entre os ilustres, Clarice Lispector, Iuri Gagarin, Nelson Rodrigues e Simone de Beauvoir expressaram o choque causado pela magnitude da construção à primeira vista.
    De dentro para fora, pioneiros exibiram, a partir de 1960, o lado cotidiano da construção, a movimentação na Cidade Livre e na Vila Planalto e o ritmo ainda calmo das asas Sul e Norte, seguidos de denúncias sobre a falta de segurança e abismo social que surgiu da explosiva lotação das cidades satélites.
    Plural e poética, a literatura sobre Brasília serve ainda a novos visitantes, uma geração que a enxerga urbana, com o ritmo apressado das grandes cidades e o diferencial de representar, em um mesmo espaço, as mais variadas nuances da identidade nacional.
    (...)

    Romance do Vaqueiro Voador, de João Bosco Bezerra Bonfim
    Em formato de literatura de cordel, a narrativa apresenta um retirante que trabalhou na obra das torres do Congresso Nacional. Durante um dia de trabalho, o "vaqueiro endiabrado/ Vaquejando no cimento" cai do alto da construção, de onde até hoje se pode ouvir seu lamento sofrido.

     

    A matéria completa pode ser vista em: http://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia182/2010/05/02/diversaoearte,i=190052/BRASILIA+EM+50+ESCRITOS.shtml

     
    João Bosco

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    J3



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    J3

    quinta-feira, 29 de abril de 2010

    O Edital Prêmio Mais Cultura de Literatura de Cordel 2010 será publicado no mês de maio


    O Edital Prêmio Mais Cultura de Literatura de Cordel 2010 – Edição Patativa de Assaré será publicado no mês de maio. Serão contempladas 200 iniciativas culturais vinculadas à criação e produção, pesquisa, formação e difusão da Literatura de Cordel e linguagens afins, como a xilogravura, o repente, o coco e a embolada. Em breve, as informações sobre a seleção pública - que contará com recursos de R$ 3 milhões - estarão disponíveis no site do Ministério da Cultura, no link Editais, e na página eletrônica do Programa Mais Cultura.
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    J3

    quinta-feira, 22 de abril de 2010

    O Romance do Pavão Mysteriozo, de Ednardo, é relançado

    Bela notícia. O Romance é um dos discos mais originais e inovadores daquele período, o que não é pouco visto que a emergência do pop nordestino da época nos trouxe uma penca de artistas inventivos e ousados, com discos muito marcantes, como os 4 primeiros discos de Fagner, Aluciação, de Belchior, Molhado de Suor e Vivo, de Alceu Valença, Jardim da Infância, de Robertinho do Recife, enfim, uma concorrência pesada e muito qualificada.

    Além das qualidades musicais e líricas de Romance, é preciso falar de sua eficácia pop-rock, com a incorporação de uma instrumentação eletro-acústica e um ataque só limitado pelas precárias condições de gravação de quase todos os estúdios da época, com notáveis exceções como os usados pela EMI-Odeon, por onde gravava a turma de Minas. Espero que a remasterização tenha melhorado a qualidade sonora do disco e não simplesmente aumentado o volume de alguns instrumentos, como geralmente acontece. Vi que os produtores não cairam na armadilha de incluir faixas-bônus que, em geral, descaracterizam o disco original.

    Em tempo, Charles Gavin, já responsável pela reeedição anterior (a edição que tenho), deveria virar pelo menos nome de rua pelo número de pérolas esquecidas que tem recolocado em circulação.

    Disco Ednardo - O Romance do Pavão Mysteriozo - Relançado

     

    O disco Ednardo - O Romance do Pavão Mysteriozo, gravado originalmente em 1974 pela RCA, é relançado em CD em março de 2010 pela Sony Music.

     A masterização do original do LP de 1974 para o CD em 2010 está muito boa, parabéns ao Charles Gavin (ex-baterista dos Titãs) que realizou a reedição deste disco.

    Este CD traz as obras emblemáticas inaugurais de Ednardo, que faz deste seu primeiro disco solo gravado em 1974 um belíssimo painel no cordel urbano e humano com 12 faixas com músicas e letras atualíssimas e arranjos primorosos, junto com vários parceiros como Augusto Pontes, Fausto Nilo, Brandão, Tânia Cabral.

    MÚSICAS

    Carneiro - Ednardo e Augusto Pontes
    Avião de Papel - Ednardo
    Mais um Frevinho Danado - Ednardo
    Ausência - Ednardo
    Varal - Ednardo e Tânia Cabral
    Dorothy L'Amour - Petrúcio Maia e Fausto Nilo
    Desembarque - Ednardo
    Trem do Interior - Ednardo e Fausto Nilo
    Alazão (Clarões) - Ednardo e Brandão
    A Palo Seco - Belchior
    Águagrande - Ednardo e Augusto Pontes
    Pavão Mysteriozo - Ednardo

     

    FICHA TÉCNICA

    Supervisão Geral - Osmar Zandomenigui
    Coordenação Geral - Antonio de Lima
    Coordenação Artística e Direção de Estúdio - Walter Silva
    Técnicos de Som - Stelio Carlini / G. João Kibelkstis (Joãozinho) / Edgardo Alberto Rapetti
    Técnicos de Mixagem - Walter Lima / Edgardo Alberto Rapetti
    Fotos - Gerardo Barbosa Filho
    Direção de Arte das Capas - Tebaldo
    Desenhos - Ednardo
    Gravação e Mixagem - Estúdio A da RCA em São Paulo - 16 Canais


    MÚSICOS
    Arranjos e Regências - Hareton Salvanini / Heraldo do Monte / Isidoro Longano
    Sobre idéias de arranjos musicais de Ednardo
    Violão e Percussões - Ednardo
    Viola e Guitarra - Heraldo do Monte
    Flauta e Sax Tenor - Isidoro Longano (Bolão)
    Banjo - Luiz de Andrade
    Contra Baixo (Acústico e Elétrico) - Gabriel J. Bahlis
    Bateria - Antonio de Almeida (Toniquinho)
    Tímpanos - Ernesto de Lucca
    Tumbadoras - Rubens de S. Soares
    Percussões - José Eduardo P. Nazário / Jorge H. Silva / Dirceu S. de Medeiros (Xuxu)
    Piano Cravo (elétrico) - José Hareton Salvanini
    Flauta / Pícolo - Demétrio S. de Lima
    Flauta / Sax Alto - Eduardo Pecci
    Clarinete - Franco Paioletti
    Oboé - Benito S. Sanchez
    Baixo Tuba - Drausio Chagas
    Pistons - Sebastião J. Gilberto (Botina) / Settimo Paioletti
    Trombones -Roberto J. Galhardo / Antônio Secato
    Violoncelos - Ezio Dal Pino / Flabio Antonio Russo
    Violinos - Jorge G. Izquierdo / Oswaldo J. Sbarro / Caetano D. Finelli / Dorisa Soares Antonio F. Ferrer / German Wajnrot / Alfredo P. Lataro / Joel Tavares
    Participação Especial - Amelinha no Vocal da faixa "Ausência"



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    J3

    terça-feira, 20 de abril de 2010

    Romance do Vaqueiro Voador no Canal Brasil nesta terça-feira, 20 de abril de 2010


    Romance do Vaqueiro Voador no Canal Brasil nesta terça-feira, 20 de abril de 2010

     

    22:00

    Romance do Vaqueiro Voador  Ano: 2008 |  País: Brasil

    Diretor:  Manfredo Caldas
    Elenco:  Luis Carlos Vasconcelos

    Inspirado no poema de João Bosco Bezerra Bonfim, a produção recria, utilizando elementos ficcionais, o universo mítico do nordestino, partindo do questionamento sobre quem seria o homem morto ao despencar de um andaime numa Brasília ainda em construção.

     

     

    O vôo do Ícaro do sertão

    Vladimir Carvalho

    reflete sobre forma e

    conteúdo de O romance

    do vaqueiro voador,

    em cartaz na cidade

    VLADIMIR CARVALHO

    ESPECIAL PARA O CORREIO

    Apropósito de O Romance do Vaqueiro

    Voador, filme que acaba de estrear no

    circuito comercial em Brasília, ocorreume,

    logo que o assisti ano passado, o

    que à primeira vista pode parecer rematada extravagância:

    fosse nosso contemporâneo o pintor

    flamengo Pieter Brueghel, o Velho, o tema da

    construção de Brasília não escaparia à sua palheta

    tão chegada aos escancarados espaços e

    às gentes que nele circulam. Aqui ele poderia

    trocar de inspiração e em vez de se inspirar em

    Hyeronimus Bosch procuraria um outro quase

    homônimo, o João Bosco, autor do cordel que

    deu margem ao filme de Manfredo Caldas.

    Logo em sua abertura magnificente, com os

    créditos de apresentação de Fernando Pimenta,

    senti-me planar junto com a câmera, flutuando

    com ela sobre a Esplanada dos Ministérios

    e o cenário em sua volta. E, tomado pela

    vertigem do movimento e da música impactante

    de Marcus Vinícius, experimentei a sensação

    de reencontrar a obra do mestre renascentista

    que quase sempre abarcava com a vista

    do alto os seus temas como se os sobrevoasse

    até os difusos horizontes. Mas, olhados mais

    de perto no foco desses plongês, se viam as cenas

    que flagrava, cheias de movimento e intenções,

    de figuras prestes a se mexerem para o

    deleite de uma invisível câmera de filmar. Assim

    são as suas telas célebres como o Porto de

    Nápoles, A Colheita do feno,A Torre de Babel,A

    Luta de carnaval e Quaresma ou a apavorante

    O Triunfo da Morte, aterradora "panorâ

    á havia esquecido o pintor com relação ao

    Vaqueiro voador, quando revendo o filme e relendo

    o longo e tocante poema de João Bosco

    Bonfim, tornou-me a baixar o fantasma de

    Brueghel e dessa feita mais explicitamente. É

    que casualmente decifrei nos versos do cordel

    o nome Oraci, um dos apelidos do Vaqueiro,

    que lido ao contrário é Ícaro, justo o tema do

    holandês na fabulosa Paisagem com a queda

    de Ícaro, quadro que tem a mesma e característica

    visão do alto a contemplar a condição e a

    faina humanas, alimentadas de sonho e utopia.

    E aí associei essas ilações à estratégia poética

    adotada por Manfredo Caldas e seu co-roteirista

    Sérgio Moriconi para traduzir no cinema

    a narrativa literária. Ele sobrevoa com sua câmera

    em plongê os amplos espaços da grande

    urbe já construída e movimentada, prenunciando

    o assunto que persegue, até descer

    vertiginosamente em mergulho e aterrissar

    nas tensões da tragédia que vai contar.

    Nesse lance, primeiro procede sorrateiro como

    se cercasse a caça à maneira do gavião

    que a espreita do alto antes do bote final. Essa

    é a primeira manifestação de uma "forma" de

    que Manfredo se acerca e termina por se

    apossar por inteiro no transcurso do filme,

    como se aos poucos fabricasse a carnadura

    que vai encobrir e visibilizar o esqueleto de

    um duro e implacável conteúdo.

    Nunca antes Manfredo foi tão obsessivo no

    encalço de sua expressão. Diferente do seu

    primeiro filme de longa duração, Uma questão

    de terra, Vaqueiro voador está longe de ser um

    registro puramente documental, radicalmente

    fiel à tradição do gênero que procurava no real

    a sua razão de ser e quando, mais do que tudo,

    era ao chamado conteúdo que se dava mais

    atenção. No caso em tela, não. É a busca obstinada

    de um modo particular de "dizer", de expressar-

    se na língua do cinema que importa. E

    aqui ele claramente faz a corte à forma como

    se ela existisse por si só, e em si, separada do

    seu conteúdo, como se dirigindo a uma musa

    difícil de conquistar. Nesse sentido, Vaqueiro

    Voador é um salto na carreira de Manfredo,

    quase uma ruptura drástica.

    Vale a pena sublinhar também o feliz domínio

    do tempo da narrativa fazendo-a inflectir

    no momento exato em que ficção e documentário

    definitivamente se acoplam, ensejando a

    esperada modulação. Essa curva de ascensão

    leva o filme até a sua culminância catártica,

    quando o drama do indivíduo e a tragédia dos

    trabalhadores se tornam praticamente simbióticas.

    Na barbearia, diante de meridiana verdade

    pode-se dizer sem medo de estar sendo tosco,

    que o filme faz barba, cabelo e bigode. O serviço

    é completo. Sob os cuidados do fígaro suburbano,

    os depoimentos sobre a chacina, muito bem

     

    duram pouco mais de 10 minutos, levando o filme

    ao pico máximo, alçando vôo derradeiro e

    arremetendo com toda força para o desenlace,

    após o que alcança a conseqüente ressaca como

    que acordando das profundezas do transe. Nunca

    antes de Raimundo (ou Oraci?) precipitar-se

    como um ícaro sertanejo no vazio de discutível

    suicídio. Nessa altura o rotativo vem subindo e a

    música faz a "festa" até o final, narradora e participativa

    como foi desde o início.

    VLADIMIR CARVALHO É DOCUMENTARISTA

     

    Crônica da Cidade

    CONCEIÇÃO FREITAS // conceicao.freitas@correioweb.com.br (cartas: SIG, Quadra 2, Lote 340 / CEP 70.610-901)

     

    O VAQUEIRO

    VOADOR

    SUMIU

    Uma semana, uma única semana,

    foi o tempo em que O romance do vaqueiro

    voador ficou em cartaz. Até as

    poltronas acolchoadas do cinema devem

    ter se sentido incomodadas com

    o documentário de Manfredo Caldas,

    baseado no texto de João Bosco Bezerra

    Bonfim. Afinal, o filme pega a

    contramão da história oficial da construção

    de Brasília e, miticamente,

    fala do destino ingrato que chamou

    para o Planalto Central uma imensidão

    de migrantes nordestinos, sugou-

    lhes a força de trabalho e os deixou

    voar de um andaime de um prédio

    em construção.

    Não tive tempo de ver o filme, até

    podia ter tido, soubesse que ficaria

    em cartaz somente uma e protocolar

    semana. Mas li o texto de João Bosco,

    a sinopse do filme e a crítica de Luiz

    Carlos Merten, no seu blog no portal

    www.estadao.com.br. Diz Merten

    que assistiu ao filme sozinho numa

    sala de São Paulo: "O romance do vaqueiro

    voador é um filme de difícil

    classificação. Não é um documentário

    tradicional nem uma ficção (…)

    Mas o fato de ser difícil de enquadrar

    torna mais bela a história que também

    não se encaixa na historiografia

    oficial, e tanto que foi apagada". O

    crítico diz que O romance... é um "ensaio

    poético, um poema filmado,

    uma colagem de imagens distintas".

    O poema que inspirou o filme foi

    publicado em 2004, numa edição

    também feita de colagens. Num tamanho

    extragrande (quase o dobro

    de um Aurélio), mas com apenas 44

    páginas, o livro junta gravuras de

    Abrão Batista com imagens de Vladimir

    Carvalho (do filme Brasília segundo

    Feldman) e fotografias do Arquivo

    Público.

    Diz o poema de João Bosco que

    em noite de lua quem se aproximar

    da Esplanada dos Ministérios há de

    ouvir uma voz que ecoa entre os

    blocos. "Que segredo esconde/Essa

    aparição medonha/Será milagre de

    Deus?/Será alguma peçonha?,/Se

    quer saber então ouça/Nâo faça cerimônia".

    Quem prefere guardar no peito e

    na memória a idéia de que a construção

    de Brasília foi uma epopéia imaculada

    e de heróis invencíveis, sugiro

    que pare por aqui. O poema vai dizer

    que não foi bem assim.

    O que aconteceu com o vaqueiro

    voador foi o seguinte, nos dirá o poeta:

    "Era janeiro primeiro/Nos idos

    anos cinqüenta/Quando voou um

    vaqueiro/De altura sem tamanho/

    Espatifou-se no chão/Teve da

    vida o desengano".

    Quem teria sido o infeliz voador?

    "Sobrenome ele não tinha/Era Oraci

    Vaqueiro/Ou fosse Raimundo Nonato,/

    Quem sabe Tonho ou Joaquim?/

    Nome é o que menos conta/

    Para quem morre assim."

    Vaqueiro Voador nem enterro teve,

    foi jogado nos alicerces de algum

    dos ministérios. Desde então, toda

    lua traz a cantiga lamentosa do peão.

    E "o que no princípio era medo,/Tornou-

    se consolação,/Todos esperavam

    a lua/Para ouvir aquela canção/

    Que era triste e lamentosa/Mas

    falava ao coração".

     


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